domingo, 26 de abril de 2009

Sátira aos HOMENS quando estão com gripe

de ANTÓNIO LOBO ANTUNES



Pachos na testa, terço na mão,

Uma botija, chá de limão,

Zaragatoas, vinho com mel,

Três aspirinas, creme na pele


Grito de medo, chamo a mulher.

Ai Lurdes que vou morrer.

Mede-me a febre, olha-me a goela,

Cala os miúdos, fecha a janela,


Não quero canja, nem a salada,

Ai Lurdes, Lurdes, não vales nada.

Se tu sonhasses como me sinto,

Já vejo a morte nunca te minto,


Já vejo o inferno, chamas, diabos,

anjos estranhos, cornos e rabos,

Vejo demónios nas suas danças

Tigres sem listras, bodes sem tranças


Choros de coruja, risos de grilo

Ai Lurdes, Lurdes fica comigo

Não é o pingo de uma torneira,

Põe-me a Santinha à cabeceira,


Compõe-me a colcha, Fala ao prior,

Pousa o Jesus no cobertor.

Chama o Doutor, passa a chamada,

Ai Lurdes, Lurdes nem dás por nada.


Faz-me tisana e pão de ló,

Não te levantes que fico só,

Aqui sózinho a apodrecer,

Ai Lurdes, Lurdes que vou morrer.





Qualquer semelhança com casos já vividos .... É pura coincidência!!!

Sem comentários: