quarta-feira, 18 de março de 2009

18 de Março - António Nobre


António Pereira Nobre (Porto, 16 de Agosto de 1867 — Foz do Douro, 18 de Março de 1900), mais conhecido como António Nobre, foi um poeta português cuja obra se insere nas correntes ultra-romântica, simbolista, decadentista e saudosista (interessada na ressurgência dos valores pátrios) da geração finissecular do século XIX português.





Menino e Moço


Tombou da haste a flor da minha infância alada,

Murchou na jarra de oiro o púdico jasmim:

Voou aos altos Céus a pomba enamorada

Que dantes estendia as asas sobre mim.



Julguei que fosse eterna a luz dessa alvorada

E que era sempre dia, e nunca tinha fim

Essa visão de luar que vivia encantada,

Num castelo de prata embutido a marfim!



Mas, hoje, as pombas de oiro, aves da minha infância,

Que me enchiam de Lua o coração, outrora,

Partiram e no Céu evolam-se, a distância!



Debalde clamo e choro, erguendo aos Céus meus ais:

Voltam na asa do Vento os ais que a alma chora,

Elas, porém, Senhor! elas não voltam mais...


Leça, 1885

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